
Semana passada recebi um e-mail de uma amiga querida. O texto, além de expressar carinho e atenção, trazia um parágrafo que foi decisivo para a escolha do tema deste artigo:
...”Sabe de uma coisa... tava precisando de uma consulta... rrsrsr. Vc tem algum texto bom que fala de orgasmo feminino? Na verdade, mais que orgasmo, queria saber sobre gozo, ejaculação feminina. Me manda alguma coisa?”...
Sei que ainda hoje essas dúvidas são comuns, então, resolvi aproveitar o mote para tentar ajudar não somente uma amiga, mas, mulheres e porque não homens, pelo Brasil a fora.
O assunto é amplo e controverso. Para não tomar muito tempo dos leitores, escreverei pequenos artigos que irão se complementando. Fiquem à vontade para perguntar, comentar, contar experiências...
De acordo com a Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana (SBRASH), não conseguir “chegar lá” é uma dificuldade que 20% das mulheres apresentam. Mas afinal, quem é ele? Esse tal de orgasmo, tão perseguido, desejado e adorado?
O orgasmo é o ponto máximo de excitação que homens e mulheres atingem durante a relação sexual. Apesar das sensações prazerosas sentidas na região pélvica (nádegas, coxas, genitais), o orgasmo acontece mesmo é na cabeça e dura de dois a dez segundos!
Existem no cérebro, regiões chamadas centros de prazer. São concentrações de células nervosas responsáveis pela sensação prazerosa. Chegar ao orgasmo é como receber uma descarga elétrica nesses núcleos. Daí os tremores, a boca seca, a indescritível sensação de relaxamento que comumente sentimos pós-orgasmo.
Há mais de 100 anos, Freud divulgou em sua teoria que as mulheres podiam apresentar dois tipos de orgasmos: o vaginal e o clitoriano. Ele acreditava que somente mulheres maduras e experientes eram capazes de ter orgasmo vaginal.
Atualmente, nós, estudiosos da sexualidade humana, seguimos a tese de Masters e Johnson, um casal de pesquisadores americanos que na década de 60, concluiu que orgasmo vaginal e clitoriano não se diferenciam: as sensações provocadas pelo ápice do prazer começam no clitóris e terminam com as contrações dos músculos vaginais.
Mas, por que algumas mulheres não sentem ou têm dificuldade de chegar ao “paraíso”?
Anorgasmia é o nome técnico dessa disfunção sexual. Na maioria das vezes, não conseguir chegar ao clímax é um problema de fundo psicológico.
A maioria de nós, mulheres, foi educada para enxergar o sexo como algo perigoso, proibido, até mesmo asqueroso. Aí a gente cresce e, de repente, o discurso muda: Sexo é ótimo! Sexo maravilhoso...
Como relaxar e sentir prazer quando nos pegamos fazendo algo que aprendemos que era para não fazer? O que fazer com a culpa e a vergonha que condicionamos a ter de nosso corpo e de nossa sexualidade.
Atentem para a equação: culpa + vergonha – relaxamento = anorgasmia.
E a “primeira vez”? Será que ela conta? Claro! Se a mulher sentiu dor, o parceiro foi pouco carinhoso ou até agressivo, se o local não era muito apropriado, o que acabou gerando tensão... Essas e outras situações comuns na primeira relação sexual das mulheres interferem negativamente na sexualidade, o que pode gerar dificuldades de sentir orgasmos em relações sexuais posteriores.
Agora, imagine: Se uma mulher, que estava com o parceiro que escolheu e ainda assim sentiu dor ou desconforto na “hora H”, pode desenvolver anorgasmia, pense naquela que sofreu abuso sexual... Comumente, mulheres que foram abusadas sexualmente na infância, adolescência ou mesmo na fase adulta, desenvolvem não só dificuldades de atingir o orgasmo, como também incapacidade de sentir prazer.
Além da educação sexual, ou melhor, da deseducação sexual como costumo dizer, da primeira relação ter sido uma experiência positiva ou negativa e do abuso sexual, uma série de outros pontos podem ser pensados quando o tema é o orgasmo da mulher.
Tem mulher que sente orgasmo e nem sabe que sentiu. Sim! É verdade! A intensidade dos orgasmos varia de pessoa para pessoa e também pode variar de uma relação para outra. Algumas mulheres têm orgasmos pouco intensos e não classificam aquela sensação como um orgasmo.
Acredito que a mídia interfere neste aspecto. Como? A indústria pornográfica é uma das mais rentáveis do mundo! E hoje ainda temos a internet, onde podemos encontrar vídeos e filmes pornôs gratuitos.
A mulher compara seus orgasmos a orgasmos de uma personagem de filme pornográfico, dificilmente vai acreditar que aquilo que ela sente é orgasmo de verdade. Mulheres! É filme é filme! E atrizes interpretam!
E os orgasmos múltiplos? Existe isso?
Sim, existe! Mas nem todas as mulheres conseguem! Não depende de treino, experiência ou maturidade. É do organismo de cada uma. O que provavelmente ocorre é que essas mulheres têm vários pequenos orgasmos consecutivos, só que de menor intensidade. A grande maioria das mulheres, contudo, chega ao orgasmo uma única vez por relação.
Ok, meninas (e meninos, espero)! No próximo artigo falarei sobre a interferência da idade, dos hormônios... Sobre alguns mitos como o de “chegar ao orgasmo junto” e por outras cositas mas...
Abraços e até lá!